– O que você acha? – perguntou a voz tremula, cortando o silêncio – devo mesmo? – hesitou com uma mista de incredulidade e excitação.
Uma excitação estranha que provinha do cérebro e se espalhava por todo corpo, causando um pequeno arrepio dorsal.
Os olhos atentos e perplexos não descansavam, giravam e giravam, tremiam e lacrimejavam. As mãos quase sempre apoiadas nos joelhos enquanto o corpo balançava aleatoriamente pela superfície gélida do chão azulejado.
Ele lambeu os lábios, ansioso…
Mas fez se somente o silencio naquele quarto.
Do outro lado, outros olhos observavam fixamente… Olhos botoados, de uma escuridão intensa e sombria, que possuíam um pequeno reflexo brilhoso da fresta da janela. De uma felpagem estranhamente agradável e uma sabedoria aparentemente esplendida!
Eles se olhavam, e conversavam.
Um se mexia, outro não.
E em meio a nuvens de pensamento que se distorciam frequentemente, entre o medo e próximo à satisfação, uma gota de sangue caia, lentamente. Gota por gota, gotejando com uma suavidade inexplicável. Elas se impactavam num grande e caloroso vermelho. Entretanto também não produziam som algum, só marcavam o tempo. Cada batida de seu coração. Pois caiam lentamente, mas hora ou outra porventura aceleravam, e as gostas se transformavam em chuva, logo, vermelhidão total.
– É, é isso… – respondeu satisfeito com o diálogo. Depois balbuciou algumas palavras não compreendidas.
Levantou cambaleantemente apoiando no armário mal conservado e caminhou até a porta. As mãos palpitavam sobre a maçaneta, abriu, e mesmo saindo da escuridão a levou consigo.
Mais tarde, vermelho. E o ursinho que estava do outro lado do quarto, pôs se sempre a conversar.